DE VOLTA...

Viagem no Expresso

Que opta por chegar com um pouco mais de pressa ao seu destino de viagem, pode escolher por um estilo de transporte que se distancia cada vez mais do modo tradicional que se navega e sempre se navegou em tempos próximos e distantes. É a substituição da viagem nos “recreios” tradicionais pelos barcos velozes, os “expressos”. Uma viagem que duraria mais de 24 horas dura apenas 9 horas, opção escolhida pelos mais apressadinhos, aqueles que por compromisso ou desejo de chegar mais rápido escolhem estes meios de transporte. Sem muita opção, a não ser sentar e ver as árvores passando rapidamente enquanto a pequena embarcação vence velozmente as águas intermináveis do Solimões.
Sem redes para embalar, sem área de lazer confortável, apenas poltronas exprimidas e apertadas e uma televisão ligada a um aparelho de DVD que passa filmes americanos um após outro enquanto a viagem dura. Durante noves horas navegamos de Manaus à Coari, com algumas paradas durante a viagem para deixar pessoas em Anori e Codajás, e curiosamente algumas paradas em barcos pesqueiros, os “peixeiros”, como são conhecidos popularmente. Mesmo os rostos mais conhecidos não são convidativos ao diálogo e a troca de idéias, parece que cada um quer sentar apenas e ver o tempo passar, apenas pequenos gestos de cumprimento, menear da cabeça, um “ok” com o dedo polegar em posição de tudo bem. Lembro que antigamente, viajar na água como quem viaja em rodovias: sentados e não deitados, tendo as poltronas cansativas substituindo as preguiçosas redes era algo não muito aceito. Hoje, com o passar do tempo, este estilo de viagem vem sendo cada vez mais aceito e torna-se cada vez mais comum. Se irá substituir a forma tradicional de navegar coletivamente só o tempo dirá, mas já é uma tendência.
De qualquer forma, voltar a minha cidade, independente da forma de transporte utilizada é um prazer. A experiência cansativa de passar 9 horas sentado, foi um exercício de leitura e reflexão: leitura dos jornais do dia e bastante tempo para pensar sobre todos os assuntos possíveis e dificilmente temos estes momentos no corre-corre do dia-a-dia de trabalho. O assunto que mais pesava o que estava sendo noticiado nos jornais: a demissão de mais de 2000 pessoas dos quadros da prefeitura: de repente, perder o emprego, a capacidade de pagar os compromissos, a expectativa de comprar o pão de cada dia, isso a letra fria das legislações não contemplam, nem tão pouco a consciência daqueles que não pensam no seu próximo.
Às 9 horas intermináveis e rápidas estavam próximas de seu fim, ao contemplar os aspectos mais próximos da sede do município de Coari: Itapeuá, as barreiras e por fim a “Boca de Coari”. Nada melhor que poder retornar, abraçar os queridos e voltar ao trabalho, quanto mais rápido melhor: nisso a viagem no expresso me ajudou. Espero que tão rápido quanto possível as soluções cheguem para aqueles que até antes de eu viajar faziam parte da estatística de empregados, e que agora, em meu retorno encontro engrossando os números amargos dos desempregados de nosso país.