Marcelo Odebrecht diz ter contado para Dilma que propina chegava ao PT

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O ex-executivo Márcio Faria confirmou a negociação de propina, que seria na maioria destinada ao PMDB, mas também previa uma parte para o PT.
A delação de Marcelo Odebrecht mostra que a ex-presidente Dilma Rousseffx e a ex-presidente da Petrobras Graça Foster sabiam que a Odebrecht pagava propina para obter contratos com a Petrobras.
O Jornal Nacional mostrou na quinta-feira (13) que um contrato da Petrobrasx de R$ 825 milhões renderia propina de R$ 40 milhões para o PMDB.
Na delação, o empresário Marcelo Odebrechtx disse que foi procurado diretamente pela ex-presidente da Petrobras para que ele explicasse o pagamento de propina.
O contrato previa uma prestação de serviços para a área de negócios internacionais da Petrobras, que era área de influência do PMDB.
Marcelo: Estava jantando na casa de um diretor nosso, e aí eu recebi uma ligação da Graça. E a Graça dizia: Marcelo, que história é essa do assunto do PAC, a gente soube que teve pagamentos, não sei exatamente o termo que ela usou, a gente soube que teve pagamentos aí para o PMDB. E isso inclusive chegou nos ouvidos dela, se referindo à presidenta.
Marcelo Odebrecht disse que pediu um tempo para descobrir o que havia acontecido. E que foi atrás do então executivo da empresa, Márcio Faria. Segundo o depoimento, Marcio contou a Marcelo que tinha negociado com os ex-deputados Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves.
Marcelo: Eeu falei. Foi só PMDB? Por que eu vou ter problema com Graça. Aí ele falou, não, o PT sabia e também recebeu uma parte. Aí eu, de certo modo, tenho um argumento para conversar com ela.
O ex-executivo Márcio Faria confirmou a negociação da propina, que seria na maioria destinada ao PMDB, mas também previa uma parte para o PT.
Marcio Faria: O Rogério me trouxe: ‘Rogério, eu posso pagar para quem quer que seja, desde que seja do mesmo dinheiro, não tem dinheiro novo’. O João Augusto, representando o pessoal do PMDB, concordou que fosse abatido e aí então foi acertado que 1% seria pago ao PT.
Procurador: Então daquele 5% inicial viraria 4 mais 1, 4% pro PMDB  e 1% pro PT.
Marcio Faria: Exatamente.
Com essa informação de Márcio Faria, Marcelo Odebrecht, então, foi procurar Graça Fosterx num hotel em São Paulo e citou o nome do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que está preso.
Marcelo: Então, eu disse a ela: Graça, não sei quem é. Mas posso dizer o seguinte: o PT sabia. Marcio me disse que Vaccari sabia. E também recebeu uma parte. Aí foi que a postura dela um pouco que mudou, porque ela que tinha me procurado para reclamar de pagamento indevido para o PMDB e que tinha chegado no ouvido dela esse assunto. E eu falei: aí, como resolve? Eu e você, não estávamos envolvidos na época, mas ocorreu, está aqui, PMDB recebeu, o PT recebeu, como é que a gente faz? A gente vai ter prejuízo agora?
O assunto continuou rendendo e Marcelo teve um encontro com a então presidente Dilma Rousseff.
Marcelo Odebrecht contou que teve uma reunião com Dilma na biblioteca do Palácio da Alvorada, onde ele relatou tudo o que havia dito a Graça Foster. Segundo Marcelo, Dilma estava desconfiada. Queria saber se o vice-presidente Michel Temerx estava envolvido.
Marcelo: No caso da presidenta, ela sempre estava incomodada em querer saber. Eu achava que ela queria saber se o Michel estava envolvido. Ela nunca, ela nunca... Mas você percebe que ela queria instigar quem era a pessoa que estava envolvida por trás, que estava recebendo isso.
Pergunta: Quem teria recebido dinheiro?
Marcelo: Quem teria recebido o dinheiro.
Pergunta: Do PMDB?
Marcelo: É. Na verdade é o seguinte: quando eu coloquei o assunto do PT, eu desarmei tanto ela quanto a Graça, do ponto de vista que eu desarmei. Desarmei, apesar de eu não achar que as duas estavam envolvidas, não sabiam. Mas na hora que coloquei, desarmei. A questão: Como é que elas iam conduzir o assunto se o partido delas estava envolvido?

Marcelo decidiu avisar ao PMDB: “Eu pedi ao Cláudio Melo, que tinha relação com os caciques do PMDB, avisar o seguinte: ‘Cláudio, avisa lá, faça chegar ao ouvido de Temer, que ela está desconfiada de que algumas pessoas do PMDB, inclusive ela pode estar desconfiada dele, de que recebeu valores.’”
Tempos depois, o senador Edison Lobão, do PMDB, questionou Marcelo Odebrecht.
Marcelo: Aí ele me falou assim: ‘Que história é essa que a presidente lhe perguntou sobre se eu recebi alguma coisa de um negócio lá de um contrato a Petrobras?’ Eu falei: ‘eu não tenho nada a ver com isso, se você não tem nada a ver com isso, vamos nos fingir de mortos.’”
Respostas
A assessoria da ex-presidente Dilma Rousseff disse que é mentira que Dilma tivesse conhecimento de qualquer situação ilegal envolvendo a Odebrecht, integrantes do governo ou pessoas que atuaram na sua campanha à reeleição. A assessoria disse também que a ex-presidente espera que as investigações transcorram com imparcialidade e transparência e que acredita que a verdade será demonstrada.
O PT não quis se manifestar.
João Vaccari Neto disse que a delação não é verdadeira e que, sem prova, as declarações não têm valor jurídico.
O senador Edison Lobão, do PMDB, disse que não participou da conversa relatada por Marcelo Odebrecht nem recebeu qualquer pagamento irregular.
A assessoria do Palácio do Planalto declarou que o presidente Michel Temer já respondeu de forma categórica que não tem nenhum envolvimento neste caso ou em qualquer negócio escuso.
A defesa de Henrique Eduardo Alves disse que o ex-deputado não conhece o delator e negou que ele tenha participado da reunião ou tratado do assunto mencionado. Disse ainda que o presidente Michel Temer já afirmou que Henrique Eduardo Alves não estava presente na reunião.
Nós não conseguimos contato com a ex-diretora da Petrobras Graça Foster, com a defesa de Eduardo Cunha e com o PMDB.
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