James Watson: Não é racismo

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Publicada em 19/10/2007 às 12h15m

fONTE: O Globo

"A ciência não é estranha à controvérsia. A busca de conhecimento é freqüentemente desconfortável e desconcertante. Nunca temi declarar o que acredito ser verdade, não importando o quão difícil seja. Isso, de vez em quando, me deixa em maus lençóis. Raras vezes mais do que agora, em que me encontro no centro de uma tempestade. Entendo boa parte da reação. Porque se eu disse o que escreveram que disse, então só me resta admitir que estou perplexo. Para aqueles que inferiram das minhas palavras que a África, como um continente, é, de alguma forma, geneticamente inferior, só me resta pedir desculpas públicas. Não foi o que eu quis dizer. Mais importante, do meu ponto de vista, não há base científica para tal crença. Sempre fui um feroz defensor da posição de que devemos basear nossa visão do mundo em fatos. Por isso a genética é tão importante. Porque nos leva a respostas para muitas das maiores e mais difíceis questões.


Mas essas respostas podem não ser fáceis porque, como eu sei muito bem, a genética pode ser cruel. Meu próprio filho é uma de suas vítimas. Aos 37 anos, Rufus não pode levar uma vida independente por causa da esquizofrenia. Por muito tempo, minha mulher, Ruth, e eu achávamos que Rufus precisava de um desafio para o qual se voltasse. Mas quando ele passou pela adolescência, temi que a origem de sua vida incompleta jazia em seus genes. E foi essa percepção que me levou a tornar o projeto genoma humano uma realidade.


Ao fazer isso, sabia que dilemas morais surgiriam e me preocupei em estabelecer os componentes éticos, legais e sociais do projeto. Desde 1978, quando um balde de água foi jogado sobre meu amigo de Harvard E.O. Wilson por suas declarações sobre a influência dos genes no comportamento, os ataques contra a genética comportamental humana permanecem vigorosos. Mas a irracionalidade deve perder terreno em breve. Logo será possível ler as genéticas individuais. Quando isso acontecer, espero que possamos ver se alterações na sequência de DNA, e não influências ambientais, resultam em comportamentos diferentes. Por fim, estabeleceremos a relativa importância da natureza em oposição ao ambiente.


A idéia de que algumas pessoas são más por natureza me perturba. Mas a ciência não está aqui para fazer a gente se sentir bem. Existe para responder questões a serviço do conhecimento. Ao descobrir em que extensão os genes influenciam o comportamento moral, seremos capazes de entender como os genes influenciam aptidões intelectuais. No meu instituto estudamos falhas causadas por genes no desenvolvimento do cérebro que, freqüentemente, levam ao autismo e à esquizofrenia. Pode ser que descubramos que diferenças nesses genes responsáveis pelo desenvolvimento do cérebro levam a diferenças na habilidade de executar diferentes atividades mentais.

Não entendemos suficientemente como ambientes selecionaram, ao longo do tempo, os genes que determinam a capacidade de fazer diferentes coisas. O grande desejo da sociedade é dizer que capacidades equivalentes de razão são uma herança universal da Humanidade. Pode ser. Mas simplesmente querer que seja assim não é suficiente. Isso não é ciência. Questionar isso não é racismo. Não se trata de uma discussão sobre superioridade ou inferioridade, mas sim buscar entender diferenças, saber por que alguns são grandes músicos e outros grandes engenheiros. É muito provável que passem pelo menos 15 anos antes de chegarmos a uma compreensão adequada da relativa importância da natureza versus ambiente na conquista de importantes objetivos humanos. Até lá, nós, como cientistas, sempre que quisermos nos posicionar nesse grande debate, devemos tomar cuidado ao invocar verdades indiscutíveis sem o apoio de provas."

JAMES WATSON escreveu esse artigo para o jornal britânico "Independent"

OBS: James Watson, É cientista Prêmio Nobel cujos comentários polêmicos sobre a “inferior inteligência de negros” em relação a brancos causaram condenação geral.

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