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Textos & Economia - Pesca, do chute à pesquisa científica Economia





Eustáquio Libório



O Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) editou em 2006, por meio do ProVárzea (Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea) um estudo intitulado Estatística Pesqueira do Amazonas e Pará 2003, onde retrata a situação dos estoques pesqueiros ao longo da calha do Solimões/Amazonas, além de dar a dimensão das espécies mais exploradas seja pela pesca comercial ou da captura artesanal do pescado.

Por si só, a pesquisa já é um bom indicativo das ações desenvolvidas pelo Ibama no Amazonas, dada a crônica ausência de dados quantitativos a dar suporte para decisões administrativas dos governos federal, estaduais e municipais que caracterizam a administração pública. No setor pesqueiro, até então, o máximo que se podia dizer é que os valores apresentados à opinião pública estavam mais baseados no empirismo, na observação do dia-a-dia do que em qualquer critério científico. Em outras palavras, cada setor consultado dava seu ‘chute’ sobre os números referentes à pesca efetivada nos rios da Amazônia.

O bom nível do estudo desenvolvido pelo Ibama/ProVárzea talvez seja atestado já no texto introdutório onde os autores reconhecem o papel de destaque conferido à atividade pesqueira nos corpos d’água amazônicos relacionada à diversidade das espécies e ao percentual do pescado capturado em razão de sua interface com as populações ribeirinhas. Entretanto, ressaltam o vácuo de conhecimento existente sobre a quantidade de espécies de peixes a habitar os ambientes aquáticos amazônicos. A pesquisa foi desenvolvida em 17 municípios, sendo oito do Estado do Pará e nove no Amazonas. Volume da produção

De acordo com os dados obtidos pela equipe de pesquisadores, em 2003 o desembarque total de pescado nos municípios da calha do Amazonas/Solimões atingiu o total de 51 mil toneladas. Destas, 37.289 t (72,6%) ocorreram no Amazonas, restando ao Estado do Pará 14.061 toneladas, correspondente a 27,4% do volume desembarcado.

Manaus é confirmada como o maior centro consumidor de peixes de água doce na região ao ficar com 68,8% da produção amazonense, em seguida vem o município de Tabatinga, com 8,1%. Em terceiro lugar está Manacapuru com 6,6%.

Das espécies desembarcadas no Estado o jaraqui, cujo nome científico é semaprochilodus spp, constitui 30,7% do total, fazendo jus ao dito popular ‘quem come jaraqui não sai mais daqui’, uma vez que o desembarque está diretamente relacionado ao consumo. Em seguida vem o pacu (mylossoma sp.) com 15%. A curimatã (prochilodus nigricans) participa com 9,4%, a sardinha (triportheus sp.), tem 9,2% de participação e a aruanã (osteoglossum sp.), cuja a maior parte dos amazonenses desdenha, representa 3,7% do desembarque nos portos do Estado. Desembarque no Amazonas

O ranking de desembarque do pescado no Amazonas referente ao ano de 2003 é o seguinte: Manaus em primeiro lugar com 25,673 mil toneladas (68,8%), Tabatinga em segundo com 3,032 mil toneladas (8,1%), Manacapuru em terceiro com 2,444 mil toneladas (6,6%), Parintins assegura a quarta posição com 1,781 mil toneladas (4,8%), a 5ª posição é de Itacoatiara com 1,73 mil toneladas (4,6%), em 6ª Tefé com 1,457 mil toneladas (3,9%), em 7ª fica Coari com 841 toneladas (2,3%), em 8ª temos Fonte Boa com 232 t e em nono lugar se posiciona Alvarães com 95 t (0,3%).

Na análise das espécies mais capturadas, Manaus apresenta desembarque de 9,755 mil toneladas de jaraqui. O pacu vem a seguir com 5,022 mil toneladas, seguido da sardinha com desembarque de 3,157 mil toneladas. Na quarta posição fica a curimatã com 2,486 mil toneladas e em quinto lugar a pirapitinga com 1,161 mil toneladas.

A produção pesqueira do Estado do Amazonas tem em dez espécies capturadas 81,67% do montante de desembarque no Estado. Os tipos de peixe com maior índice de captura são: o jaraqui com 11,463 mil toneladas (1º lugar), o pacu com 5,601 mil toneladas (2º lugar), a curimatã com 3,508 mil toneladas (3º lugar), a sardinha com 3,418 mil toneladas (4º lugar), a aruanã com 1,397 mil toneladas (5º lugar), a pirapitinga com 1,293 mil toneladas (6º lugar), o peixe salada (este eu confesso: não conheço nem ouvi falar) com 1,005 mil toneladas (7º lugar), o tucunaré com 963 t (8º lugar), o aracu com 908 t (9º lugar) e, finalmente, o mapará com 894 t, em 10º lugar.

É curioso que uma espécie pouco conhecida como este peixe salada (é isto mesmo Ibama?) fique à frente de peixes que estão na mesa dos amazonenses e nos restaurantes como o tucunaré. Quadros informativos

Os dados tabulados no estudo do Ibama são mais completos e estão distribuídos ao longo de perfis e tabelas que abrangem todos os 17 municípios pesquisados dando a exata dimensão do comportamento das populações das espécies mais apreciadas na calha do Amazonas/Solimões, traçando o perfil das principais com informações sobre dimensões de cada uma, expectativa de vida e reprodução, locais onde ocorrem a desova e captura, além das dimensões apropriadas para captura econômica do pescado de água doce.

Além deste trabalho, o Ibama distribui cartilhas destinadas a conscientizar as populações do interior da calha do Solimões/Amazonas da necessidade de fazer o manejo da pesca como forma de preservar as espécies e garantir o sustento das famílias ribeirinhas e impedir a pesca predatória.

O estudo também fundamenta conclusões acerca de espécies em perigo de extinção, como o pirarucu, cujo baixo nível de captura (41 t em 2003) serve de alerta para implementação de medidas que visem a incentivar a reprodução não só desta espécie, já protegida, mas de outras com o mesmo perfil.



Esta coluna é publicada às quintas-feiras e é elaborada sob a coordenação do editor do Jornal do Commercio Eustáquio Libório liborio.liborio@oi.com. Br


Atualizada em: 01/03/2007

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