Água é detectada pela primeira vez em atmosfera de ‘superterra’ habitável



DANIEL MEDIAVILLA
12 SEP 2019 

A água é muito abundante e no universo pode ser encontrada em qualquer lugar, inclusive na superfície das estrelas. No entanto, detectá-la em planetas rochosos à distância adequada de seu astro é um dos requisitos necessários para considerar se um mundo é habitável ou mesmo para procurar os primeiros sinais de vida. Nesta semana, a revista Nature anunciou a descoberta de um sinal que revela que existe água na atmosfera do K2-18b, um planeta um pouco maior do que a Terra que orbita uma estrela anã vermelha a 111 anos-luz de distância, na constelação de Leão.

O interessante da descoberta é que, diferentemente da maioria dos planetas cuja composição atmosférica conhecemos, o K2-18b não é um gigante gasoso, como Júpiter, orbitando muito perto de sua estrela. Esse objeto está no que se conhece como zona habitável, distância exata em que a água pode permanecer em estado líquido, e tem características que o tornam algo semelhante a uma superterra, com um pouco menos de oito vezes a massa da Terra e 2,3 vezes o seu raio.


“É a primeira vez que se detecta água em um planeta de tamanho tão pequeno”, comenta Enric Pallé, do Instituto Astrofísico das Canárias, que não participou do estudo. “E se foi possível fazer com o Hubble, com o James Webb [um telescópio muito maior com previsão de lançamento dentro de dois anos] será possível fazê-lo em mais planetas, de tamanho menor e com maior precisão”, continua Pallé. A dúvida ainda é se as anãs vermelhas proporcionam um ambiente adequado para a vida. “O fato de água ter sido encontrada na atmosfera desse planeta significa que muitos planetas que orbitam essas estrelas poderiam ter atmosfera”, enfatiza.

Nos próximos anos, novos instrumentos como o James Webb permitirão uma aproximação muito maior às atmosferas dos milhares de planetas extrasolares descobertos. Também é possível que novos dados moldem nossa visão do que está acontecendo nesses mundos distantes, algo que o artigo publicado hoje na Nature já começa a fazer. As anãs vermelhas emitem muito menos calor do que o Sol e, para que um planeta em sua órbita receba energia suficiente para manter a água de sua superfície líquida, deve estar muito perto dela. Isso faz com que, como sempre que um objeto menor dá voltas perto demais de um muito maior, como acontece com a Lua e a Terra e com Mercúrio e o Sol, sua órbita permanece fixa e sempre mostra à estrela a mesma face.

Há dúvidas se os planetas que orbitam anãs vermelhas tem atmosferas como a recém descoberta

No caso de um planeta como o K2-18b, é previsível que o hemisfério que sempre está exposto à estrela permaneça abrasado e o que fica na sombra esteja congelado. Isso deixaria entre as duas metades de clima extremo uma faixa com uma temperatura mais ou menos adequada à vida. Os cientistas também sugerem que, se tiverem uma atmosfera suficientemente densa, possa servir para criar em seu interior dinâmicas climáticas que gerem um ambiente menos extremo.

Mas é possível que o novo planeta não seja exatamente uma superterra e se pareça mais com um mininetuno, o tipo mais comum de planetas extrasolares. Embora a massa do K2-18b seja oito vezes maior que a da Terra e esteja abaixo das dez em que se começa a falar de mininetunos, seu raio, 2,3 vezes maior que o terrestre, está ligeiramente acima. Isso significa que sua atmosfera pode ser muito mais ampla e densa que a da Terra, algo que significaria que a pressão atmosférica nesse mundo seria muito alta e que as condições para a vida seriam, pelo menos de acordo com os critérios atuais, mais árduas.

Tudo isso é, por enquanto, especulação, mas a descoberta anuncia uma nova fase no conhecimento dos milhares de mundos que já conhecemos fora do sistema solar.

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