História do bilhete em que Marcelo Odebrecht orientaria advogados a destruir provas é a mais surrealista, até agora, da Operação Lava Jato. É teatro do absurdo!

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Recebi um comentário de um boçal, um desses cretinos que relincham pensando ser Schopenhauer, me desafiando:

“Quero ver como você vai agora defender Marcelo Odebrecht”. Em primeiro lugar, quem defende este senhor são seus advogados, não eu. Eu cumpro uma das minhas funções, que é cobrar que as coisas se façam de acordo com a lei.

Vamos com calma! Marcelo Odebrecht é culpado? Que se apresentem as provas, que o processo corra, que haja o julgamento. Comprovada essa culpa, que pague, como qualquer outro. Por que isso tudo?
Veio a público a transcrição de um bilhete que o empresário passou a seus advogados. Atenção! A imagem que circula por aí é a cópia de própria mão feita por um policial.

Num dado momento do bilhete, lê-se:

“Destruir e-mail sondas Vs RR. e-mail RR era da Braskem, assim o que conseguirem recuperar por lá história, incentiva Andre Esteves. Lembrar que talvez naquela época Sete era aproximadamente Petrobras off balance, portanto ajudar Sete era igual a ajudar Petrobras”
Não dá para entender o exato contexto de tudo o que há ali, mas algumas coisas são óbvias:

1 – o empresário passou o bilhete para que um policial entregasse a seus advogados;
2 –  o empresário e os advogados sabem que as mensagens passam por uma triagem na Polícia Federal;
3 – será que o empresário e seus advogados são imbecis a ponto de entregar o que seria uma evidência que incriminaria o investigado? Será que o empresário entregaria justamente nas mãos de um policial uma recomendação para a destruição de provas?;
4 – mais: o tal e-mail já estava com a polícia e não tinha como ser destruído em sentido físico, santo Deus! Ainda que se possa argumentar que ele está se referindo a outras mensagens, reitero a questão: ele entregaria a recomendação justamente nas mãos de um policial?;
5 – o tal bilhete não é um troço que foi encontrado, escondido em meio ou sei lá o quê; não foi um achado fortuito;
6 – as pessoas pensem o que lhes parecer melhor do investigado Marcelo Odebrecht; no meio empresarial há quem o ame e quem o odeie. Uma coisa, no entanto, sobre ele ninguém disse: que seja burro.

O exercício não é tão difícil, embora possamos ficar a muitos bilhões da situação imaginária. Mesmo assim, coloque-se no lugar de Marcelo, leitor. Pergunto: você entregaria a um policial federal um bilhete orientando seus advogados a destruir provas? Se a resposta for “não”, cabe a segunda pergunta: “Por que ele o faria?”. Se a resposta for “sim”, você não deve partir do pressuposto de que todos fariam a mesma imbecilidade.

Os motivos alegados para a decretação da prisão preventiva de Marcelo Odebrecht chocaram advogados de todo, vamos dizer, o espectro ideológico e de todas as correntes. A história do bilhete é uma forçada de mão do balacobaco em busca de um fato novo.

Mais: parece estar em curso também uma tentativa de intimidar a defesa. O presidente da Odebrecht endereçou o bilhete a Rodrigo Sanchez Rio e Dora Cavalcanti, seus advogados. Ora, quando se acusa o investigado de estar instruindo seus defensores a cometer crimes, é claro que se está atacando também a reputação desses profissionais, que têm um código de ética a seguir.

Vamos limpar o Brasil? Vamos limpar o Brasil! Não é preciso, para tanto, fraudar os fatos, a lógica e um mínimo de bom senso.

Ao escrever isso, contrario o gosto de muita gente? É assim há nove anos. Escrevo o que quero, falo o que quero. Demorou um pouco para que eu atingisse essa condição. Mas atingi. Proponho de novo o exercício, leitor: você entregaria àquele que o encarcera um bilhete contra si mesmo?

“Ah, sem pegar Marcelo Odebrecht, não se pega Lula.” Digamos que Isso fosse verdade, e não acho que seja, caberia a pergunta: até onde aceitaríamos fraudar os fatos para chegar a tal propósito?

A observação final é dispensável para os alfabetizados. Mas vai que… Mais uma vez, este não é um texto em defesa da inocência de Marcelo Odebrecht na Operação Lava Jato. Quem cuida disso são seus advogados, embora eu me atrevesse a fazê-lo, sim, se tivesse tal convicção. Já enfrentei, para fazer graça, unanimidades mais… unânimes. Este é apenas um texto que desmonta uma narrativa do absurdo. Aparecendo uma evidência que justifique a prisão preventiva — e não se chegou ainda ao julgamento —, então passo a defender a prisão preventiva.

É simples!
Por Reinaldo Azevedo
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