Israel pronuncia-se nas urnas sobre frágil permanência de Netanyahu

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Andreia Martins, RTP

Depois de três meses de campanha renhida, o Estado de Israel decide esta terça-feira que Governo e que temas vão marcar a política do país nos próximos anos. As últimas sondagens apontam para uma diferença mínima entre o partido do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que tem como grande bandeira a posição conservadora perante a questão palestiniana e o armamento nuclear do Irão, e a União Sionista, de centro-esquerda, que dá prioridade aos problemas econômicos e à área social.

Quando em dezembro uma crise política na coligação obrigou o primeiro-ministro a demitir o ministro das Finanças e da Justiça, Netanyahu foi o primeiro a chegar-se à frente para a marcação de eleições antecipadas. Uma manobra que serviria o propósito de consolidar e legitimar o seu papel na liderança do Governo. Mas uma campanha eleitoral desastrosa do Likud e as mudanças de preocupações na opinião pública israelita deixam adivinhar um resultado fragmentado entre as diversas forças políticas nos boletins de voto. 

O resultado que sair esta terça-feira das urnas será lido pelas forças políticas israelitas como um referendo a Netanyahu, que já esteve nove anos à frente do Governo de Tel Aviv. 

Se for reeleito para um quarto mandato, “Bibi” poderá tornar-se no primeiro-ministro com maior número de mandatos na história de Israel. 

Jogos de coligação

Desde a fundação do Estado de Israel, nenhum governo conseguiu alcançar a maioria absoluta. Fruto dos esforços de Governo, é esperado que também o próximo executivo não fuja à norma. A constituição de uma coligação será sempre decisiva, independentemente do resultado eleitoral. 

Para o desequilíbrio das contas entre os dois maiores partidos estão sobretudo forças de direita e extrema-direita, um cenário possivelmente favorável para Netanyahu mesmo em caso de derrota.  

Mas a ascensão e os sinais de união da esquerda e dos partidos de influência árabe assustam o eleitorado mais conservador. Em caso de vitória da União Sionista, são várias as hipóteses de coligação, desde o Kulanu - partido de Moshe Kahlon, que rompeu com o Likud e poderá conseguir até dez assentos parlamentares - até ao Yesh Atid, que se afasta das forças religiosas. 

Os partidos de orientação Árabe surgem unidos numa única lista, pela primeira vez, e poderão conseguir 13 assentos. Apesar de descartarem qualquer coligação com as forças centro-esquerda, a posição parlamentar e o sentido de voto são correspondentes, concedendo grande vantagem às forças de esquerda no Knesset.  

O eleitorado israelita, por sua vez, dá sinais de desgaste quanto aos temas que definem o país ao nível transnacionais. Isaac Herzog, um dos representantes da União Sionista, preferiu dar prioridade à situação econômica, nomeadamente a subida da inflação, do custo de vida e as crescentes dificuldades no acesso à saúde. 
Radicalização do discurso

Perante a incerteza dos resultados, Netanyahu radicalizou o discurso a fim de conter os votos da direita, que dava sinais de dispersão pelos partidos ultraortodoxos. 

O atual primeiro-ministro focou os esforços de campanha no programa nuclear do Irão e no combate ao extremismo islâmico, com destaque para o polêmico discurso perante o congresso norte-americano, a convite do Partido Republicano. 

A campanha terminou precisamente com um enorme foco nas questões de política externa. Num derradeiro esforço de campanha para arrecadar os votos da direita, Netanyahu apelou à união dos israelitas e prometeu impedir, com todos os meios à disposição, a fundação do Estado da Palestina, incluindo a constituição de uma coligação com o partido Casa Judaica, de extrema-direita: “Se o Estado da Palestina for constituído, esse território será controlado por extremistas islâmicos, que nos vão atacar com mísseis. Quem é que deseja tal coisa?”

A aposta total na questão palestiniana constituiu um risco político para o Likud, independentemente do cenário eleitoral. Enquanto primeiro-ministro de Israel, Netanyahu reiterou por diversas vezes a disposição para negociar com as autoridades palestinianas a solução dos dois estados, remetendo os constantes fracassos das conversações para o Mahmud Abbas, o Presidente palestiniano. 

Para o colunista Barak Ravid, do diário israelita Haaretz, uma eventual vitória de Netanyahu iria apenas adiar o seu afastamento do Governo “por um ano ou dois, no máximo”. Uma derrota “inevitável” para o primeiro-ministro pelo seu desfasamento com a opinião pública e colocando em risco a importante aliança com os Estados Unidos.

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