O ouro da floresta em forma (e cheiro) de flor

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Fotos: Vanessa Gama/Musa
O nome científico é Cattleya eldorado. Comum nas áreas de campina da região amazônica, sendo mais conhecida pela garganta do labelo amarelo, cor de ouro, sua flor emite um cheiro agradável e suave, sendo mais intenso durante a manhã. Ameaçada de extinção, essa orquídea é uma das mais admiradas no viveiro de orquídeas e bromélias do Museu da Amazônia (Musa), onde é cercada de cuidados.

No local, a monitora Polyana Marcião usa alguns truques para proteger a flor. Um deles é usar uma espécie de rede de filó (tecido utilizado na captura de insetos) para isolar os botões da orquídea e livrá-los do apetite de besouros, formigas, gafanhotos e percevejos. "A gente tem a florada dela, geralmente, no final do ano. Mas também nessa época é possível a ocorrência de flores. É o que está acontecendo agora", explica.

A técnica já havia sido utilizada em outro pé, que agora exibe uma flor frondosa e cheirosa, aberta na última segunda-feira. "Aqui também ocorreu a mesma coisa. Quando saiu o botão, o gafanhoto começou a comer. Daí a gente protegeu e em uma semana saiu essa flor lindíssima", conta.

Origens
O gênero Cattleya foi proposto por John Lindley em 1821, com nome em homenagem a William Cattley, orquidófilo inglês que teve seu nome latinizado para Guglielmus Cattleyus. O complemento Eldorado remete à época de seu descobrimento e, muito provavelmente, ao seu interior. Enquanto os conquistadores espanhóis procuravam a "Terra de Ouro" (Eldorado), os caçadores de plantas procuram outro tipo de riqueza.

Foi nessa selva, em 1866, que mergulhou o colecionador de orquídeas Gustav Wallis. Ele explorou as áreas baixas onde o Rio Negro deságua no Amazonas (as campinas). Foi onde encontrou uma espécie Cattleya desconhecida refletindo a luz do sol entre os ramos das árvores.


O papa da eldorado
Foi um estudo orientado pelo pesquisador Pedro Ivo Soares Braga que colocou a Cattleya eldorado no rol das flores ornamentais ameaçadas de extinção. Falecido em 2011, Pedro Ivo era considerado "O Papa da Cattleya eldorado".

Ele iniciou seus estudos sobre a família Orchidaceae muito cedo. Aos 16 anos, já era estagiário no Jardim Botânico do Rio de Janeiro e, em 1973, concluiu sua graduação em História Natural pela Universidade Santa Úrsula, na mesma cidade.

Em 1974 veio para Manaus fazer o curso de mestrado em Ciências Biológicas, área Botânica, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Em 1980, ingressou no Doutorado do mesmo programa defendendo a tese "Aspectos Biológicos das Orchidaceae de uma Campina da Amazônia Central II - Fitogeografia das Campinas da Amazônia Brasileira".
Trabalhou no INPA por 10 anos, quando se mudou para Belo Horizonte. Em 1995, voltou a  Manaus como professor visitante e, em 1997, foi contratado como Professor Titular da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Especialista em Taxonomia da família Orchidaceae, mas também estudando Biologia Floral, Fitogeografia, Fitossociologia, Conservação Ambiental, Impactos Ambientais e Recuperação de Áreas Degradadas, publicou mais de 30 trabalhos.

Foi fundador, em 1982, da Associação dos Orquidófilos do Amazonas e atualmente lutava para que ela ressurgisse como Associação dos Orquidófilos da Amazônia. Descreveu espécies botânicas novas para a ciência, como: Pleurothallis kerii (em homenagem ao ex-diretor do INPA Warwick Kerr), Neolehmannia pabstii (ao Dr. Guido Pabst), Catasetum kleberianum (ao Dr. Kleber Lacerda), Masdevallia osmariniana (ao senhor Osmarino, funcionário da Coordenação de Pesquisas em Botânica do INPA) e o híbrido natural X Brassocattleya rubyii (em homenagem à sua mãe), híbrido intergenérico entre a Cattleya eldorado e a Brassavola martianai.

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