PENSATA: A MADRUGADA VAI CHEGANDO

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A madrugada vai chegando. O dia para mim acaba agora: sem preces nem orações. O dia não terminou às 18 horas como se convenciona achar, nem tão pouco com o fim dos expedientes laborais, pois já há algum tempo que meus expedientes parecem não ter fim. E como uma compulsão escrevo sobre isto, pondo cada letra em seu lugar, fechando o ciclo de mais um dia.

A madrugada chega pedindo descanso para o corpo cansado, ao mesmo tempo em que solicita a recordação dos atos que se seguiram o dia todo. Foi justo o que fiz? Fiz o que era justo? Amei? Odiei? Vivi? Morri? E se quisera eu atender aos apelos das interrogações, este post só seria delas... E não quero que seja. Este post é da madrugada que chega pedindo aos olhos que se cerrem entregando-se ao descanso. O repouso é tão desejado a esta altura da noite como o é a felicidade.

Eu e a madrugada somos amigos, ela não quer me abandonar ao léu, quer que eu contribua para a vida, com a construção de uma história de vida que esteja além do meu umbigo. A madrugada vai chegando, lentamente com o peso das horas, o dia já passou, os fatos aconteceram... Tudo sucedeu e nada novo debaixo do céu se desenrolou.

A madrugada diz:

— Não ao pessimismo!

Eu digo:

— Não a pretensão de achar que já sei de tudo não sabendo nada! Não...

Ela me repete, suavemente:

— Não a aflição de percorrer a estrada da vida aos passos apressados do mundo na efemeridade do ser.

Então percebo. Sim a madrugada está chegando. Pobre de mim que tenho que ir ao seu encontro nas asas do sonho... Falando em sonho, não lembro qual foi o último, não é comum que eu sonhe enquanto durmo... Sonho o tempo todo de olhos abertos! De vez em quando um pesadelo distorce o sonho do alentado diurno, mas a vida não é só de sonhos, é de pesadelos também.

Venha madrugada, já que chegaste! Irei ao teu encontro, pois vieste ao meu! Venha amiga de todos os dias até que um dia eu não te receba mais. A madrugada é companhia certa de quem vela seus mortos, é companhia certa dos boêmios. Ela é amiga dos insones, é fiel hospedeira da loucura dos doidos varridos. A madrugada é detentora da brisa fria, do silêncio dos quartos, do soar das boates, do clamor da oração.

Portanto venha minha amiga que já estás apressada. Venha como queiras vir, pois minha prece antes de dormir, será na um grito desesperado, nem tão pouco um gemido acompanhado de lágrimas, nem ainda um silêncio gélido de quem está endurecido. A minha prece será um murmúrio confiante, pedindo mais que tudo que tenha vivido neste dia que se encerra, minha prece será por mais um recomeço.

TEXTO ORIGINAL: DANIE MACIEL (DE COARI).

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