HISTÓRIAS (REAIS) DE NATAL

Histórias de Natal
 

    Renata Sequeira  |  24/12/2008  


Primeiro ano que Wagner se veste de Papai Noel
Primeiro ano que Wagner se veste de Papai Noel
Não importa a temperatura. Papai Noel tem que vestir a tradicional roupa vermelha, com botas pretas, barba e gorro. Mas o que leva essas pessoas a se fantasiarem de “bom velhinho”? Alguns não ganham nada com isso, já outros acham uma boa oportunidade de arrumar um emprego temporário durante esta época de festas.

 

O Viva Favela conversou com três Papai Noel: dois da Baixada Fluminense e o outro, que veio direto da Alemanha para animar a festa de confraternização de um dos projetos do Viva Rio, o Ana e Maria. Cada um a seu estilo e com diferentes histórias, eles ajudam a manter vivo o espírito de Natal.

 

Este é o primeiro ano que Wagner Vargas se veste de Papai Noel e recebeu um presente adiantado: “Eu perdi 110 kg desde que fiz a operação de redução do estômago, em março deste ano, e não podia trabalhar por causa do excesso de peso. Este é o meu primeiro emprego desde que passei pela cirurgia”, comemora Wagner, que chegou a pesar 250 kg e passou por um tratamento que durou dois anos.

 

Wagner trabalha em uma loja de revelação
Wagner trabalha em uma loja de revelação
Desde o dia 21 de novembro, ele se veste de Papai Noel em frente a uma loja de revelação fotográfica, em Queimados. “Eu recebi mais duas propostas para trabalhar como segurança, mas não pude aceitar, porque vou ficar como Papai Noel até o dia 31”.

 

Wagner já tem algumas histórias para contar, apesar da pouca experiência. “É impressionante a quantidade de adultos que chegam para pedir um presente ou falar comigo. Tem um menino que passa todos os dias aqui vendendo fralda. Logo de manhã, ele passa por mim e pede a benção. Dá uma pena ver que aquela criança que deveria estar brincando, tem que trabalhar o dia inteiro. Toda vez que ele passa diz que quer ganhar um caminhão”.

 

Carlinhos se veste de Papai Noel desde 1970
Carlinhos se veste de Papai Noel desde 1970

Para o Papai Noel, Carlos Alberto de 72 anos, presente não pode faltar na sacola. Desde 1970 ele se fantasia de Papai Noel no município de Nova Iguaçu. “No início ia visitar crianças em orfanatos, instituições, creches. Depois um amigo que já sabia que eu me vestia de Papai Noel, me convidou para participar de festas”. 

Para Carlos existe uma diferença entre o olhar de uma criança rica e de uma pobre. “Nas famílias mais ricas, a imagem do Papai Noel está associada a ganhar presentes. Já as mais pobres gostam da figura. Mas toda criança acredita em Papai Noel”.

 

  

"O que me impressiona são os pedidos das cartas"
"O que me impressiona são os pedidos das cartas"
Durante os anos que se vestiu para animar o Natal da garotada nas creches, o que mais impressionou eram as cartinhas escritas pelas crianças. “Eu esperava que elas pedissem brinquedos, mas o que elas queriam eram roupas e até mesmo chocolate”.

 

Por causa de um problema no joelho, o médico aposentado, fará este ano menos visitas. “Quando eu trabalhava em hospital, as assistentes sociais sempre me pediam para que eu levasse os presentes para as crianças. Agora, os pedidos diminuíram. Outra coisa que mudou foi a forma física do Papai Noel. No início tinha que colocar um travesseiro para fingir que era uma barriga, agora não preciso mais usar esse artifício”, conta às risadas.]

 

Na festa de encerramento do projeto Ana e Maria, que reuniu várias jovens de diferentes comunidades do Rio, era difícil saber quem o Papai Noel agradou mais: se foram as mães ou as crianças. Com 1,94 e sem a tradicional barriguinha, o Papai Noel veio da Alemanha e não se intimidou com o assédio das crianças. O único problema foram as perguntas indiscretas das crianças. “Teve uma que me perguntou quem cuidava das renas e se Papai Noel foi para a escola”, conta às risadas Lucas Rosenthal, voluntário do Viva Rio, que está no Brasil há um ano.

 

Outra pergunta que Lucas teve dificuldades para responder foi quando uma criança quis saber como eram os pais deles. “Eu disse que não lembrava, porque eu estava bastante velhinho. Sei que algumas dessas crianças não têm mais os pais”. 

Alexandra não desgrudou do Papai Noel
Alexandra não desgrudou do Papai Noel
Um desses exemplos é Alexandra de 10 anos. Ela perdeu o pai quando tinha cinco e diz não acreditar mais em Papai Noel, mas não desgrudou do Lucas. “Quando eu era menor, sempre escrevia uma cartinha, mas nunca recebia o presente, então acabei desistindo. Se fosse mesmo para pedir algo, eu queria o meu pai. Ele morreu em um tiroteio. Eu me lembro mais ou menos dele, sei que era muito legal”, conta a menina que mora com a mãe e mais quatro irmãos.

 

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