UM ARTIGO QUE DEMITIU UM SUB SECRETÁRIO

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Este artigo causou a demissão do subsecretário de Educação de Manaus, Sérgio Augusto Freire de Souza, demitido pelo Prefeito Serafim Correa, que não suportou a pressão do sindicatos dos professores que exigia sua demissão depois que Freire publicou artigo abaixo no qual comparava professores a espécies escolhidas por Noé para entrar numa arca e repovoar o Planeta.

A ARCA DE NOÉ

O mundo ia acabar e Noé, reencarnado, foi convocado novamente. Dessa vez foi pedido a ele que colocasse na Arca professores. Um de cada tipo. Acostumado a salvar animais do dilúvio, Noé resolveu fazer uma correspondência dos tipos de professores com os tipos de animais para lhe facilitar a vida.

O primeiro que Noé encontrou foi o professor-coruja. Esse professor é um sabe-tudo e nada tem a aprender com ninguém. Crê que já galgou o conhecimento e pronto. Vive corrigindo todos do alto de seu pedantismo. Desconfiou, claro, quando soube do dilúvio. Como era possível que ele, que tudo sabia, dele não soubesse? O diligente Noé continuou cumprindo sua missão. Deparou-se com o professor-preguiça.

Folgado, o preguiça enrola para tudo. Sempre faz no seu ritmo, pouco se importando com os outros. Faz par com ele o professor-avestruz, que evita assumir responsabilidades. Sempre que isso se lhe impõe, enfia a cabeça na terra e faz de conta que não é nem com ele.

Trabalho mesmo foi convencer o professor-galo a subir a bordo. O galo é travoso, posudo e vive a entoar discursos contra a globalização e o neoliberalismo, mas dar aulas mesmo que é bom, nada. Acabou entrando, mas não sem antes pendurar na Arca uma faixa vermelha com frases de protesto, sua especialidade. Depois do galo, subiu o professor-pavão. Extravagante, o pavão faz tudo para aparecer. Impossível não notá-lo.

O professor-cobra também foi à Arca. Por Noé, o cobra não iria, pois é venenoso e maledicente. Mas Noé estava cumprindo ordens e o cobra ficou. Outro convidado a contragosto a embarcar foi o professor-urubu. Como todos sabem, o urubu gosta de carniça, da coisa podre. Faz parte do grupo do quanto pior, melhor. É catastrófico e tudo para ele é razão do apocalipse. Ele ficou feliz com o iminente dilúvio porque a perspectiva do fim do mundo, justificativa que sempre o impediu de trabalhar, estava virando realidade.

E assim foi. Entraram ainda o professor-anta, que é professor não se sabe como, o professor-lombriga, que por qualquer coisinha tira uma licença médica, o professor-borboleta, que fica ali quietinho na sua crisálida, alheio à floresta que o cerca como se nada fosse com ele. Vieram ainda o professor-hiena, que ri de tudo, o professor-onça, que ensina na base do medo, e o professor-leão, líder dos outros professores.

Chegaram juntos o professor-morcego, que voa às cegas e dá aulas sem prepará-las, o professor-peixe, que se não estiver num ambiente 100% perfeito não sobrevive (e até agora me pergunto porque salvar um peixe do dilúvio) e o professor-aranha, que gosta de pôr armadilhas para seus alunos caírem. Muito aplaudido foi o popular professor-cigarra, que com seu violão sempre anima as culminâncias pedagógicas.

Quando a Arca já ia sair, alguém se lembrou de avisar Noé que ele havia esquecido o professor-formiga. O formiga faz seu trabalho individual, mas pensando no coletivo. É eficiente sem muito alarde. Noé parou e foi buscá-lo. Se os outros estavam na Arca, por que logo o formiga, o exemplo, ficaria de fora? Se bem que na vida real, quase sempre os outros não deixam muito espaço para ele mesmo. Suspeita-se até que está em extinção. Poucos sabem, mas o nome da Arca de Noé era Escola.

Sérgio Augusto Freire de Souza

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3Comentários

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  1. Adorei o texto, não poderia ser mais verdadeiro. Infelizmente em nossas arcar temos pouquíssimas formigas, mas há sempre uma esperança.
    Parabéns pelo artigo.
    Professora Mônica Salti

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  2. Não entendi pq ele foi demitido. Kd a democracia? A hipocrisia deu pra perceber... Só não gosta e se ofende com esse texto aqueles que se viram na arca e não gostaram do reflexo. Tô divulgando pra amigos professores.
    Um abraço
    Profª Tania Simone
    (Mônica Salti é uma amiga querida, formiguinha teimosa rs, saudades...)

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  3. A Mônica e a Tania entenderam o espírito da coisa. Formigas geralmente entendem. Um abraço. SF.

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