O TEMPO PERDIDO

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Texto: Daniel Maciel
Assim como o dia de ontem não é igual ao dia de hoje, e nem o será o dia de amanhã, da mesma forma, o tempo perdido não voltará, os momentos não serão os mesmos. As situações podem até parecer iguais, mas jamais se repetirão com a mesma essência, com os mesmos detalhes que foram antes. À medida que os anos se passam percebemos que a felicidade é composta por instantes exclusivos, e se tivéssemos percebido isso antes, poderíamos ter vivido estes instantes com maior intensidade, ou aproveitado a cada instante. Infelizmente nem sempre percebemos, somos assim, humanos e falhos, não que isso seja desculpa para um comportamento frívolo, mas como parte de uma realidade da qual não podemos fugir.
Perdemos tempo em tantas situações não essenciais, como se querendo fugir da realidade. A realidade por ser o que é, dura e inflexível como mais forte tenaz: amedronta e em uma fuga em busca de um mundo não tão difícil assim nos refugiamos em pequenos oásis de prazer, ou em verdadeiras grutas de ilusão, ou ainda em limbos de ostracismos, comportamentos sem essência, só por querer está longe da turbulência, por querer fugir.
Cavar um buraco sob os pés e se enterrar não vai fazer o mundo diferente, não vai fazer o tempo retroceder, não vai fazer o sol nascer como se não houvera se posto ontem, e a questão não é viver ansioso por ter a necessidade de não perder tempo, nem sequer ser relapso por ter todo o tempo do mundo, e sim ter a percepção do que é essencial: aquilo que realmente vale para toda a vida. Existem instantes que vêm e que passam, porém há momentos que ficam para a eternidade, e na maioria são compostos de atitudes simples, tão simples como um sorriso, como um olhar de um filho, como o apertar das mãos de amigos.
Perdemos tempo, quando nos envolvemos em atividades várias e não percebemos a essência da vida, quando fazemos algo por fazer ou porque não temos o que fazer. Perdemos tempo quando no egoísmo que arde a essência humana, lutamos contra a felicidade dos outros por não conseguimos ser felizes. Perdemos tempo quando não reconhecemos que o que fazemos pode está nos destruindo e assim mesmo persistimos em fazer. Não há bem maior no universo que o próprio ser humano, não há templo mais sagrado que o nosso próprio corpo, não há paisagem mais linda que um sorriso brilhando no rosto de uma criança, jovem, adulto ou idoso... não há felicidade maior do que a resultante de uma consciência livre de culpas e de atitude motivadas pelo altruísmo, não há universo maior do que a vida daqueles a quem amamos, não há construção mais permanente do que o exemplo de nossas atitudes, não há tempo mais feliz do que o vívido com a essência de quem sabe que o agora é hora de ser feliz, no entanto a maioria dos seres humanos não conseguem vivenciar desta forma, e a realidade se torna oposta a todas as virtudes na maioria das pessoas.
Perdemos tempo nos vícios, nas vicissitudes, nas atitudes egoístas, quando buscamos o mal do outro e quando não percebemos o bem alguém está querendo nos prestar. Perdemos tempo quando somos ingratos e maldizentes, e não percebemos que a felicidade está presente no nosso próprio cosmos e não na nos corpos celestes. Perdemos tempo quando, ignorantes e estúpidos como animais irracionais, não conseguimos o perceber o mal que estamos fazendo a quem amamos e a nós mesmos. Perdemos tempo quando não conseguimos identificar o nosso papel na existência, de tal forma que passamos pela vida sem sentido, deixando para trás só sofrimento, mazelas aos milhares.
O ciclo do giro da terra ao redor do sol é contínuo, o período em que o próprio planeta gira em redor do seu eixo é infinito enquanto durar, mas o decorrer de nossa existência, entre o nascer e o morrer, é único. Não entendemos assim para a consciência e percepção do mundo. Nascemos, vivemos e morremos: este é nosso tempo! Sol humano que nasce, brilha no céu da existência e põe-se uma única vez... Se isto acontecesse com os astros físicos, qual seria o nosso comportamento? De que forma nós entenderíamos o único, exclusivo e último nascer do sol? Qual seria o valor daquele dia? Talvez assim, como uma simples alusão possamos entender a importância da vida humana. Pobre vida humana, complexa e tão desvalorizada. Acostumamos-nos com o nascer do sol diário, com seu brilho cotidiano e com seu ocaso que se repete um dia após outro, da mesma forma como nos acostumamos com as misérias, guerras, vícios e problemas que provam a nossa ferocidade e total ignorância com o bem comum.
O tempo perdido não será aquele que gastamos nos erros, mas aquele que não conseguimos utilizar para corrigi-los. No demais, somos humanos, a nossa essência é errônea, e a nossa ânsia é divina. Mas que carne e um amontoado de células que nascem, multiplicam-se e morrem, somos uma consciência pensante. Abrigamos mais mistérios em nosso interior que no universo infinito. Não conseguimos sequer resolver os nossos próprios enigmas antes de desvendarmos o futuro: o futuro é o tempo que ainda não chegou.
Se a vida não tem valor para nós mesmos, perdemos o tempo em tudo o que fizemos, façamos ou venhamos fazer.

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